18/11/2011
O Vazio em Ozu na Guarda
Dia 10 de Dezembro o filme-concerto "O Vazio no Ozu" vai estar na Guarda, no sede do Aquilo Teatro, pelas 23h30, num evento organizado pelo Cineclube da Guarda e o Aquilo Teatro.
som: kanukanakina - miguelpipafilipe.wordpress.com
imagem: cinemajunkie - cinemadejunkie.blogspot.com
É um filme-concerto, uma performance musical de sonoplastia construída sobre uma projecção de imagens editadas a partir de filmes de Yasujiro Ozu (e outros realizadores japoneses). É também uma tentativa de encontrar uma linha narrativa na evolução das imagens do cinema japonês e da própria sociedade japonesa, e o papel de Ozu em revelar tudo isso numa viagem ao Japão através do seu cinema. Ozu é um dos mestres originais do cinema, que conseguiu desenvolver uma linguagem cinemática muito própria que é ao mesmo tempo moderna e primordial, que está presente em qualquer filme saído de Hollywood por estes dias. Foi essa linguagem, essa utilização das imagens para contar uma história que marcou o cinema japonês no período que a sua carreira atravessou, um estilo contemplativo que se extravasou para os seus contemporâneos no Japão: quer sendo apropriado por outros realizadores, quer provocando reacções para procurar uma linguagem alternativa (como Kurosawa ou Suzuki), ninguém era indiferente à importância do trabalho de Ozu.
Mu / 無 é o simbolo japonês que encontra tradução no conceito de vazio, nulo, e que Ozu adoptou como seu - é um conceito que paira sob toda a sua carreira e sob toda esta projecção. Diz-se de Ozu que filmou sempre o mesmo filme, com ligeiras variações e que nessas variações ínfimas podíamos observar a evolução da própria sociedade japonesa, das alterações nos seus costumes. Ozu observava inexoravelmente o núcleo familiar, as relações entre pais e filhos e a dicotomia tradição versus progresso. Os filmes de Ozu tentavam acompanhar as mudanças que marcavam a sociedade japonesa, desde a depressão económica dos anos 30 à recuperação do pós-guerra e consequente estabilidade e prosperidade. Com esta projecção pretendemos oferecer uma oportunidade de descobrir o início do seu trabalho que atravessou três décadas - desde os filmes mudos do início dos anos 30 à introdução das cores no final dos anos 50 - e a construção de uma linguagem que se tornou um alicerce para o cinema actual. Este caminho seguido de forma cronológica permite-nos ver não só a evolução do seu trabalho mas também a influência que teve junto de outros realizadores japoneses. Os ritmos de Ozu são repetidos, são sombrios, quase mecânicos - e aqui são investigados, amplificados, na procura do vazio que Ozu carregava consigo, até chegar à imagem final.
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